Palavras do Professor José Pacheco em “Cartas a Alice”
Para os porquenãos que não permitem o avanço, respeitamos, mas preparem-se porque estamos juntos e somos muitos.
“Aos pássaros porquenãos competia vigiar o cumprimento das normas e rituais de adestrar as jovens aves. Os porquenãos, que assim se chamavam por não saberem explicar por que faziam o que faziam – era assim porque era assim….e pronto! – dificilmente coexistiam com os pássaros-mestres propriamente distos. Os pássaroas-mestres dormitavam nas copas inacessíveis aos ratos cavernosos e às víboras rastejantes. À vista desarmada, não havia quem conseguisse distinguir uma espécie da outra. Aos pássaros-mestres não restava alternativa senão a de piar em segredo, aferrolhados nos galhos altos. Porque se algum porquenão lograsse intuir o perigo da diferença, nunca mais os pássaros-mestres teriam sossego. Restar-lhes-ia mudar-se para outra gaiola dourada, de preferência bem distante daquela. E havia ainda os porquenins, animais de outro reino, sempre de acordo ora com uns ora com outros, conforme a casião. Talvez se torne fácil para ti Alice, que vives outros tempos, compreender por que pássaros sem alma roubavam primaveras e impunham céus cinzentos a muitas gerações de aves escolarizadas.”